quinta-feira, 19 de abril de 2012

Da digestão das coisas.

Comecei há alguns dias a apresentar os alimentos ao Breno, que agora passados 6 meses, já pode colocar algo no estômago além do leite materno.
O médico não apresentou muitas restrições à introdução de frutas e legumes, e até sugeriu que já comecemos a misturar carne e frango nas "papinhas". A parte mais chata disso tudo é que, apesar de passar os dias me mordendo e tentando mastigar tudo o que vê pela frente, como a maioria dos bebês, ele ainda não tem dentes! O que significa que a maior, quase obrigatória recomendação, é a consistência da comida. Até a mínima parte não amassada da cenoura, ou um pedaço de carne que não passou direito pelo liquidificador, já é suficiente para desencadear um acesso de tosse - e me colocar logo em pânico com a situação. O motivo é simples: ele não está acostumado. A digestão fica mais difícil, o intestino incomoda, o cheiro muitas vezes não agrada, o sal traz mais sede.
É aí que a gente pensa (tanto ele, quanto eu): eu era feliz e não sabia!
Acho engraçado como a digestão é algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado. A parte simples é porque se trata de um processo natural e fisiológico; a parte complicada é porque o psicológico afeta diretamente esse processo (e todos os outros).
Pare pra pensar no número de coisas que digerimos todos os dias, ao longo da vida. Não me refiro à comida, e sim ao resto. Todo o resto.
Para alguns, fica mais fácil digerir as coisas se acompanhadas de uma cerveja, um vinho, um cigarro. Para outros, é mais fácil digerir à base de Coca Zero e muito, muito chocolate.
O fato é que a introdução da comida quando somos pequenos, é (ou deveria ser) preparatória para o futuro.
Enquanto somos bebês, tem sempre alguém que cozinha, bate, amassa e ainda separa cuidadosamente os grãos maiores da comida para melhorar nossa digestão. Engolimos com tanta facilidade!
Aos poucos a consistência muda, gradativamente, até a gente se acostumar.
Depois de um certo tempo, o estômago que se vire. Não é à toa que o danado se revolta passados alguns anos: úlcera, gastrite, borboletas, frio, calor, queimação...o coitado passa por tanta coisa!
Fora as coisas que, por mais que a gente se esforce, demora anos pra digerir. Algumas, nunca chegam a "descer".  A gente bem que tenta: bebe água, sal de frutas, dá uma volta, respira....e quando achamos que o processo acabou, lá está aquilo tudo de volta, deixando o gosto amargo na boca outra vez.
As pessoas à nossa volta deveriam pensar melhor antes de derramar um monte de bobagens sobre nós, todos os dias. Outras, nem imaginam o impacto que certas palavras, ou certas atitudes, têm sobre nós.
Simplesmente fazem e falam, e aí, a digestão é a com a gente. E como é complicada.
Não desce, não sai, fica lá, entalado no caminho entre a garganta e o estômago. E isso, não tem antiácido que resolva: o único remédio é o tempo.
É a nossa capacidade de digerir que vai determinar as marcas, os traumas, as cicatrizes que tudo isso vai causar dentro da gente. Às vezes percebo um processo digestivo acontecendo sem nem saber do quê. Não é à toa que as enfermidades do estômago sejam frequentemente associadas ao emocional.
Só sei que, mesmo já tendo se passado 26 anos da minha vida, muitas vezes me pego pensando: será que alguém podia amassar umas verdades, umas mentiras, uns desaforos e umas ironias do destino pra mim? Será que assim eu consigo finalmente completar a digestão, sem que nenhum pedaço deles me sufoque?
Meu estômago parece capaz de lidar facilmente com feijoada, hamburguer, batata frita, farofa, e até administra bem o fato de eu precisar sempre de uma Coquinha Zero e uns bombons todo santo dia, para conseguir manter a sanidade do resto do organismo. Ele só não se acostuma é com a digestão difícil de verdade...as mágoas, a decepção, a indiferença, a maldade, a infelicidade alheia....essas, não descem de jeito algum!


Tem coisa que é tão difícil de engolir!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cadê a borboleta daquele casulo?!

Um belo dia, saindo de casa para a garagem, estava como de costume carregando em minhas únicas duas mãos (que deveriam ter se reproduzido na mesma proporção em que eu pus as crianças no mundo, mas não o fizeram) milhares de coisas, incluindo um bebê conforto com 8kgs dentro (leia-se aqui Breno, e normalmente reclamando), bolsa de fraldas, minha bolsa, sacolas de roupas pra trocar (que eu sempre tenho, não importa a época) e ainda dando uma das mãos pro Théo não sair correndo.
Foi no meio de todo o caos rotineiro da saída de casa, que parei um segundo diante de um dos vasos, sem flores como sempre - que ficam em cima de um pedestal, um de cada lado da porta da entrada - e reparei em um casulo, verde, pendurado do lado de fora do que estava à direita. Após colocar tudo dentro do carro, cada coisa em seu devido lugar, ignorar por alguns segundos o choro do Breno e o horário que devíamos ter para um compromisso qualquer, voltei até lá para observar melhor: um casulo de borboleta!
Sou uma pessoa engraçada, imprevisível eu diria. E não só eu. É comum alguém exclamar: "Eu nuuunca imaginei que você faria isso", ou "Você é a última pessoa que eu pensei que gostasse disso". E devo confessar, gosto de ser assim...não existe nada pior do que ser uma pessoa monótona. E isso, garanto, repito e assino em cartório: NÃO SOU!
O curioso da história, é que eu sou daquelas que diz que quando tiver uma casa, não vai criar nem planta. Já me bastam as crianças pra demandar cuidados! Não sou daquelas que ligam pra cachorro, gato, hamster, peixes....mas às vezes me encanto quando vejo um beija-flor que passa rente à piscina, uma libélula que vem beber água perto de mim, e até mesmo me apego e me pego admirada por um casulo, que teoricamente, ainda não é sequer um animal.
Fui ate lá e levei o Théo comigo, sempre achando que posso ensinar alguma coisa útil com as coisas bobas do dia-a-dia, e ainda gritei pra minha mãe que estava dentro do carro: "Olha, que lindo! Logo, logo nasce uma borboleta." O Théo saiu correndo e não disse, mas deve ter achado uma coisinha feia e nojenta, e eu tentei explicar e faze-lo, do alto dos seus 4 anos, entender que aquilo podia parece banal, mas escondia um lindo significado.
Com meu dom de refletir por minutos, horas, dias e às vezes até anos, a partir da coisa mais trivial do mundo que aparece pelo caminho, nada melhor que a metáfora da borboleta para que eu começasse logo a pensar: "Como é a vida, as coisas começam de um jeito e depois mudam"; "O que é feio depois se torna bonito", e muito mais pensamentos comuns à idéia da metamorfose, aconteceram por causa da "suposta" borboleta.
Dali em diante, peguei a mania de observar diariamente aquele casulo, na esperança de que eu notasse logo alguma mudança, e sempre esperando ser aquele o dia em que eu veria algo novo por ali. Sempre com medo de que algum cachorro resolvesse morde-lo, ou de que alguém menos avisado batesse o guarda-chuva naquele ser tão frágil. Isso tudo ocorria em uma fração de segundo - a minha observação e toda essa expectativa -  dia após dia. Já havia se tornado um hábito.
Nada acontecia de extraordinário, até que um dia notei que o casulo começara a rachar, havia algumas pequenas fissuras, o que foi suficiente pra que eu esperasse que, de repente, mais dia, menos dia, uma linda borboleta saísse voando dali. Que emoção, uma das criaturas mais lindas da natureza, escolheu a minha garagem pra dar início à sua vida!
Ninguém parecia dar a mesma importância para o casulo. Aquela expectativa toda era só minha. Já podia imaginar de qual cor ela seria, qual tamanho, quantas manchas....mesmo que eu nunca chegasse a vê-la, se ela saísse voando antes mesmo de eu ter a chance de comprovar tudo o que eu pensava sobre ela, eu estava feliz pela simples idéia de uma borboleta ter nascido na minha garagem. Mais essa história pra contar, sabe lá pra quem, ou quando, ou por que, mas de qualquer maneira estaria guardada dentro de mim.
Um dia depois de ter me animado com o fato do casulo estar rachado - o que na minha cabeça significava que ela estava realmente se desenvolvendo ali dentro - saindo com pressa, mas parando para minha contemplação diária, vi um líquido escuro escorrendo pelo vaso. Talvez fosse normal, ou não, não sabia ao certo o que pensar. De qualquer maneira, não arranquei o casulo de lá com medo de que ainda houvesse vida, e não seria eu a acabar com aquilo. Mais uns dias observando e era isso, nada aconteceu. E foi esse o fim da minha borboleta! O líquido preto realmente significava o fim do desenvolvimento daquele ser que eu esperei ansiosamente por tantos dias.
Não sei quem o tirou do vaso e o jogou fora, só sei que não fui eu. Não tive coragem.
Por um longo tempo, fiquei pensando sobre isso. E vi que na verdade, a falha natural da vida daquela borboleta, é que me faria refletir sobre coisas fora do lugar-comum, e que, se adaptam perfeitamente ao contexto de muitas coisas que vivemos.
Temos a terrível - quase fatal, eu diria - mania de querer adivinhar, ou melhor, de tentar prever, situações futuras. O simples fato de vermos um casulo, já nos faz pensar, desejar, e até contar, com uma borboleta que pode ou não acontecer a partir dali.
Assim é a vida: uma borboleta com certeza já foi casulo um dia, mas a existência de um casulo não garante que haverá borboleta. Além disso, a expectativa da borboleta muitas vezes se torna tão real, que quando ela não acontece temos aquela terrível sensação de luto, por algo que na verdade nunca existiu, nunca nos pertenceu. Por algo que ninguém garantiu que existiria, simplesmente porque alguém supôs que assim seria, e que durante um tempo (talvez até a vida inteira) se agarrou em tal idéia e contou tanto com isso, como se as coisas fossem certas e sabidas, como se nada pudesse dar errado. E quem sabe, talvez aquele casulo nem de borboleta fosse!
O que nos esquecemos no meio de tudo, de toda paranóia, de toda loucura, de toda a expectativa, é que uma borboleta não irá nascer só porque queremos que isso aconteça. Claro que podemos - e devemos - colocar algum esforço para que dê certo, mas muitas coisas fogem do nosso alcance, e são justamente essas as que mais tememos. A concretização de nossas expectativas depende de muitos outros fatores além da nossa vontade!
O ser humano pensa que tem, mas na verdade, nunca teve, não tem e nem nunca terá, o controle de tudo nas mãos. Ao contar com a borboleta que sairá do casulo, estamos brincando de ser Deus.
Devemos aprender, por mais doloroso e difícil que seja, e por mais que isso fuja aos nossos hábitos de uma vida inteira, a sonhar menos com as borboletas e sim, se importar bastante com os casulos, mas também reparar na paisagem à sua volta, nos outros seres que estão ali, que são reais e palpáveis. Talvez não tão belos e sedutores como as borboletas, mas que também nascem e mudam nossas vidas o tempo todo.
Por mais impossível que pareça, vamos todos começar a chorar mais pelas borboletas que saíram dos casulos e depois morreram, e menos por aquelas que existiram na nossa cabeça e no nosso coração, mas que nunca sequer chegaram, de fato, a viver.
No final das contas - e essa sim é uma bela metáfora para a vida - o casulo me ensinou muito mais quando se transformou em "nada", do que se tivesse se transformado na tão bela e sonhada borboleta!

Obrigada, casulo!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

BATOM DE MORANGO: A MENINA VIROU MULHER.

Desde novinha, adorava ler histórias de meninas que foram mães adolescentes. Quanto mais novas eram, mais interessante eu achava. Criava roteiros na minha cabeça...imaginava como elas tinham que se encher de coragem pra assumir tudo, pra contar pros pais, contar pro namorado...e adorava quando a história tinha uma reviravolta, do estilo "meu pai quis me expulsar de casa quando soube, mas hoje ama o neto mais que tudo no mundo".
E, como toda adolescente normal, me perguntava como alguém podia fazer isso com a própria vida. "Isso nunca vai acontecer comigo". Mas no fundo, no fundo...sempre tive uma certa aflição. Bom, ao menos, com a certeza de que não seria expulsa de casa. Que alívio!
Eu sempre disse que queria ser mãe aos 30 anos. Imaginava minha vida toda "certinha". Entrando na faculdade dos sonhos, arrumando cedo um emprego maravilhoso, sendo independente, morando em um "loft" ultramoderno e de decoração "clean", casando "mais ou menos aos 25", viajando pelo mundo e aproveitando os primeiros anos do casamento. E só depois pensando na história de ter filhos. Às vezes até admitindo pra mim mesma a possibilidade de não tê-los.
Sempre fui desmentida. Diante de toda essa minha teoria, minhas tias diziam: "Você vai ser mãe cedo."
Minha mãe, achava impossível eu chegar aos 30 sem eles. Minhas primas, diziam sentir que muitas crianças estavam pra vir na família. E EU estava como uma das principais candidatas a isso.
Claro, eu duvidava e afirmava com a maior certeza do mundo, que estavam todos enganados. O meu plano era perfeito demais, não era passível de falhas e nem deslizes. Nem namorado eu tinha!
Aos 18 anos, às vésperas de completar meus 19, conheci o Fabiano na praia. Apresentado pela minha mãe, que, com sua indefectível intuição, disse à ele logo no início da conversa: "Tenho uma filha pra te apresentar!". E lá estava eu, no dia seguinte, morrendo de vergonha, com aquele pensamento de que "essas coisas nunca dão certo". Ainda mais quando se trata da mãe, pois elas "nunca têm o mesmo gosto que nós".
Eu estava justamente torcendo pra que o tal moço não aparecesse, quando a vejo acenando feliz e dizendo pra ele se aproximar. Me lembro tão perfeitamente desse momento, que chega a ser assustador. Eu estava deitada na cadeira, quando olhei pra cima e o vi contra o sol, e tão logo reparei no olhar, dei um pulo no futuro e voltei. Sim, antes de trocarmos uma palavra sequer, eu já sabia que a partir dali muito estava pra acontecer. Nos vi juntos por muito tempo, inclusive com uma criança. Mas até pensei ser apenas aquele fogo inicial, de quando nos deparamos com alguém que tem grandes chances de ser a pessoa mais interessante que já conhecemos. Desde então, não nos largamos mais.
Eu estava iniciando o 2o ano da faculdade, cheia de sonhos e expectativas (seguindo à risca o plano). Não queria mesmo saber de um relacionamento sério, mas foi inevitável. Foi mais forte do que eu (seguindo à risca a intuição que tive no primeiro instante). Ele tinha tudo o que eu procurava em um homem, mesmo sem eu mesma saber que estava a procura de um. Não me imaginava mais sem ele. E então, foi dado início à derrocada do aclamado "plano perfeito"!
Quando o Théo surgiu em nossas vidas, estávamos juntos há pouco mais de 2 anos.
Durante algumas semanas fomos nos acostumando com a possibilidade da gravidez, até arriscarmos um diagnóstico definitivo. Eu sempre dizia: "Se até amanhã nada acontecer, faço o teste!". Acordava todas as noites, no meio da madrugada, e ia até o banheiro, cheia de esperanças. Até que um dia, num feriado no Guarujá, eu passei mal. Fiquei toda feliz pensando ser um sintoma da TPM.
Mas na manhã seguinte, acordei com o Fabiano me olhando, com um teste de gravidez na mão, dizendo que havia chegado a hora de pôr um fim em toda aquela aflição. Ele garantia estar dormindo menos ainda do que eu: "Não adianta prolongar isto, seja qual for o resultado, já está feito. Não aguento conviver mais um dia com a dúvida.".
Junto com o teste, dentro do saco da farmácia, tinha um batom daqueles em forma de morango. Ah, ele adivinhou! Há quantos anos eu não ganhava um batom de morango! Abri o morango, senti primeiro o cheiro do lado rosa do batom, meu preferido, que ficava sempre com as marcas dos meus dedos, e depois do lado vermelho, que sempre sobrava e acabava ficando seco pela falta de uso, e ia junto com o morango pro lixo. Minha vida passou como um filme: lembrei da infância, quando eu esperava ansiosa meu pai chegar e imaginava se, naquele dia, ele traria um batom novo de morango pra mim...e agora, novamente com o batonzinho na mão, estava prestes a descobrir que seria obrigada a crescer e virar uma mulher.
Passei de menina à mulher, diante do batom de moranguinho, naquele dia, naquela manhã, naquela cidade de praia onde tudo acontece.
Saí do banheiro com o teste na mão, chorando o choro mais sincero, confuso e desesperado da minha vida. E recebi o abraço mais sincero e apertado como recompensa. Eu era, agora, uma daquelas adolescentes das revistas, dos depoimentos que eu tanto gostava de ler. Agora seria de verdade, hora de colocar em prática da melhor maneira tudo que imaginei durante vários anos enquanto pensava naquelas meninas da Capricho. Assim como elas, nunca cogitei a possibilidade de fazer um aborto. E foi justamente isso que o pai do meu filho disse quando me soltou do abraço: "Nem pense em fazer nenhuma besteira, sou totalmente contra isso."
Nos dias seguintes, o mundo pareceu bem cinza antes de retomar um colorido ainda mais intenso.
E saímos juntos pra enfrentar o mundo. Exatamente como eu pensei que seria. Entre altos e baixos de reações das famílias, amigos, colegas, conhecidos e até gente que nada tinha a ver com a história, ficamos ilesos e encaramos a gravidez de frente, com orgulho e amor de papai e mamãe.
Fizemos curso de gestante, íamos na Feira da Mamãe e Bebê. Passávamos as manhãs do domingo vendo o livro de nomes. Quando eu sugeri "Théo", ele disse que isso nem sequer era um nome. Eu retruquei: Théo é um nome grego e significa "enviado de Deus". Perfeito!
Curtimos cada minuto. São lembranças muito boas que guardo daqueles nove meses. Até o parto, do qual eu morria de medo e que me rendeu tantas noites em claro, além de 50% do "chororô" da descoberta da gravidez, foi mais tranquilo do que eu imaginei. E, principalmente, eu fui infinitamente mais forte do que julgava ser.
Diante do resultado positivo do exame de farmácia naquela manhã no apartamento da praia, minha primeira reação foi ligar para o médico em busca de esperança, de instruções, de recomendações, de restrições, de sei-lá-o-quê. Só sei que liguei. Ele disse que faria um ultrassom pra confirmar a suspeita, já que "esses testes às vezes dão resultados falsos".
Então naquela segunda-feira pós-feriado, voltamos cedinho da praia e, antes de ir pra consulta, passei no escritório do meu pai pra comunicar o fato. "Não era o que eu imaginava pro seu futuro", ouvi dele.
Bom, até aí, eu também não. Lembra do plano?
Logo depois dessa agradável "reunião", que era a que mais me punha medo, chegamos, eu e minha mãe, finalmente ao prédio do consultório médico. Quando apertei o botão do elevador, e enquanto esperava ele chegar, me peguei pensando: "E se ele disser que o teste estava errado? Ah, agora faço questão de ter um filho. Já me sinto mãe e já amo uma criança."
E foi nesse instante que percebi que tinha mesmo me tornado uma Mulher.
Final feliz pra minha história, assim como o das histórias que eu passei a infância lendo! Saí do médico com a foto do ultrassom daquele "feijãozinho", toda feliz. Liguei pra todos pra reafirmar a notícia, dessa vez com lágrimas de felicidade. Eu já tinha ouvido o coração do meu filho bater! E isso traz, pra uma mulher, a mesma felicidade que ganhar um batom de morango do pai traz para uma menina.

Na época em que ganhar o batom era o máximo!
O famoso morango! E a parte rosa lindona!


Théo nasceu em 23/11/2007, quando eu tinha 21 anos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ALL WE NEED IS LOVE!

Amigos e Amigas, estou aqui pra agradecer mais uma vez o carinho de todos.
Seja através de comentários, mensagens no Facebook e Orkut ou visitas (já foram mais de 300 até agora)! Cada demonstração é muito importante pra nós.
Eu sabia que o Blog faria sucesso, graças à sinceridade com que escrevo, que é a mesma que tenho no meu dia-a-dia. Quem sabe eu ainda escreva um livro....rs!
As publicações serão semanais, pois meus textos são sempre longos e assim não fica cansativo.
Espero que minha história, que será relatada neste Blog a cada publicação, possa ajudar, reconfortar ou inspirar cada um que ler, de alguma maneira. Esta é minha missão nessa nova empreitada.
Beijos de nós 3!





quarta-feira, 19 de outubro de 2011

POR QUE? POR QUE? POR QUEEEEEEEEE?!

Vou "inaugurar" o Blog fazendo uma das coisas que mais gosto: contando uma história. Era uma vez uma moça que, depois de ter passado por uma dolorosa separação, pensou ter encontrado o amor de sua vida. O único detalhe é que ele morava em outro continente, e chegou da maneira como se iniciam os contos de fada modernos: através de uma rede social. Se encontraram pela primeira vez e foi tudo maravilhoso; depois, quando estiveram juntos por mais um tempo, os dois perceberam que quando o "virtual" vira "real", esbarra naquele problema básico de todo relacionamento que fica sério: a convivência. Esta ainda fica mais difícil quando se está longe do seu país, em um lugar desconhecido, nas mãos de outra pessoa, convivendo com uma rotina que não é a sua, e que tem vários aspectos que não te agradam. Sim, a Europa é linda, mas pra passear por 15 dias e voltar pro calor do nosso povo. Não demorou muito pra que notassem que de conto de fadas, essa história não tinha nada. Não se fazem mais príncipes e princesas como antigamente. A moça, de volta pro seu "reino", estava disposta a retomar sua vida deixando tudo isso apenas na memória, não fosse por um fato que mudaria tudo. Ela descobriu que os enjôos que sentiu nas últimas semanas não eram resultado dos inúmeros chocolates que devorava à noite no frio daquele apartamento português, descontando todo o stress e insegurança que sentia todo santo dia; e nem resultado do medo quase insuportável que sentia cada vez que entrava em um avião, ainda mais sabendo que passaria mais de 10 horas ali, pensando no que foi, no que não foi, no que poderia ter sido...os enjôos eram mesmo, uma vida nascendo em seu ventre. Depois de algumas semanas criando coragem, 2 testes confirmaram a suspeita. Na cabeça dela, só uma coisa: o desejo de que tudo isso não passasse de um cisto de ovário que pudesse ser confundido com uma gravidez. O cisto realmente estava ali, mas não excluiu o outro fato. Mais uma vez, isso tinha acontecido com ela. Não era possível. Como pode uma pessoa "errar" dessa maneira pela segunda vez?! E então nos 9 meses seguintes, ela chorou, chorou e chorou no travesseiro quase todas as noites e dias. Passou por coisas que até Deus duvida, se perguntava a todo instante o que deveria fazer, mas se recusou a ter o filho longe da família e voltar praquele lugar que deixou tão poucas boas lembranças...e conforme previa, terminou mais sozinha que a Rapunzel presa na torre pela madrasta. "Por que eu? Por que de novo? Por que com essa pessoa? Como fica minha vida agora?". Demorou meses pra se acostumar com a idéia, pra começar os preparativos, pra escolher o nome, pra administrar dois fatos que nem sabia qual julgar pior: outra gravidez inesperada ou admitir pra si mesma (e pro resto da humanidade) que criaria esta criança sozinha pelo resto da vida, sem saber sequer se o filho chegaria a conhecer o pai?
As semanas foram passando e, apesar da maior parte das pessoas não ter ao menos percebido a gravidez, como qualquer ser humano com sentimentos, ela começou a sentir aquela ligação entre mãe e filho que é inexorável, independente de qualquer circunstância. A barriga só cresceu no oitavo mês. Sua mãe dizia que quando pensava naquela criança, a associava sempre a um anjo, e então esse foi o tema da primeira festa em homenagem a ele: o chá de bebê. Nesta ocasião, praticamente no final da gestação, ela percebeu que, apesar de tudo, eles nunca estariam sozinhos neste mundo, pois havia muitas pessoas que se importavam de verdade. E chegou o dia, a hora e o momento: o menino nasceu, saudável, lindo, pesado. A cara do médico no centro cirúrgico não deixava dúvidas: havia algo de estranho. Aquele cisto havia crescido tanto, que tomou o ovário esquerdo quase completamente. Resolveu remove-lo ali mesmo, pois o caso já estava crítico. Quando ela viu aquilo, mal acreditava que tinha saído de dentro dela, e o pior, esteve ali durante sabe-lá-quanto-tempo assim, silencioso, sem dar sinais. Tinha o tamanho de um coração, aspecto idem, e a fez perder quase totalmente um dos ovários. Ainda em choque, naquele minuto em que ela havia acabado de segurar o filho pela primeira vez, onde os médicos ainda a libertavam daquele corpo estranho que não a pertencia, TUDO fez sentido, e todos os PORQUES foram respondidos. Após análise, o médico descobriu que se tratava de um tumor, que caso não fosse retirado iria se desenvolver infinitamente, até começar a afetar outros órgãos. Sim, apesar das noites maldormidas, do mar de lágrimas derramadas, do momento de maior insegurança e solidão de toda a vida, o Breno veio pra me salvar. Além de me dar todo o amor verdadeiro que só um filho pode dar a uma mãe. Desde o dia 29/09/11, eu parei de me questionar tanto sobre os motivos disso ter acontecido comigo, pois a resposta veio na hora certa: na hora em que uma mulher percebe que daria a vida por um filho. Ele deu a vida por mim sem precisar abrir mão de sua própria existência. E isso só prova que, pra variar, a intuição da minha mãe estava certa: o Breno é, literalmente, um ANJO que foi enviado pra mim.
Este anjo veio ao mundo em 29/09/2011, às 22:30, pesando 3.645kg e medindo 50cm.