quinta-feira, 17 de novembro de 2011

BATOM DE MORANGO: A MENINA VIROU MULHER.

Desde novinha, adorava ler histórias de meninas que foram mães adolescentes. Quanto mais novas eram, mais interessante eu achava. Criava roteiros na minha cabeça...imaginava como elas tinham que se encher de coragem pra assumir tudo, pra contar pros pais, contar pro namorado...e adorava quando a história tinha uma reviravolta, do estilo "meu pai quis me expulsar de casa quando soube, mas hoje ama o neto mais que tudo no mundo".
E, como toda adolescente normal, me perguntava como alguém podia fazer isso com a própria vida. "Isso nunca vai acontecer comigo". Mas no fundo, no fundo...sempre tive uma certa aflição. Bom, ao menos, com a certeza de que não seria expulsa de casa. Que alívio!
Eu sempre disse que queria ser mãe aos 30 anos. Imaginava minha vida toda "certinha". Entrando na faculdade dos sonhos, arrumando cedo um emprego maravilhoso, sendo independente, morando em um "loft" ultramoderno e de decoração "clean", casando "mais ou menos aos 25", viajando pelo mundo e aproveitando os primeiros anos do casamento. E só depois pensando na história de ter filhos. Às vezes até admitindo pra mim mesma a possibilidade de não tê-los.
Sempre fui desmentida. Diante de toda essa minha teoria, minhas tias diziam: "Você vai ser mãe cedo."
Minha mãe, achava impossível eu chegar aos 30 sem eles. Minhas primas, diziam sentir que muitas crianças estavam pra vir na família. E EU estava como uma das principais candidatas a isso.
Claro, eu duvidava e afirmava com a maior certeza do mundo, que estavam todos enganados. O meu plano era perfeito demais, não era passível de falhas e nem deslizes. Nem namorado eu tinha!
Aos 18 anos, às vésperas de completar meus 19, conheci o Fabiano na praia. Apresentado pela minha mãe, que, com sua indefectível intuição, disse à ele logo no início da conversa: "Tenho uma filha pra te apresentar!". E lá estava eu, no dia seguinte, morrendo de vergonha, com aquele pensamento de que "essas coisas nunca dão certo". Ainda mais quando se trata da mãe, pois elas "nunca têm o mesmo gosto que nós".
Eu estava justamente torcendo pra que o tal moço não aparecesse, quando a vejo acenando feliz e dizendo pra ele se aproximar. Me lembro tão perfeitamente desse momento, que chega a ser assustador. Eu estava deitada na cadeira, quando olhei pra cima e o vi contra o sol, e tão logo reparei no olhar, dei um pulo no futuro e voltei. Sim, antes de trocarmos uma palavra sequer, eu já sabia que a partir dali muito estava pra acontecer. Nos vi juntos por muito tempo, inclusive com uma criança. Mas até pensei ser apenas aquele fogo inicial, de quando nos deparamos com alguém que tem grandes chances de ser a pessoa mais interessante que já conhecemos. Desde então, não nos largamos mais.
Eu estava iniciando o 2o ano da faculdade, cheia de sonhos e expectativas (seguindo à risca o plano). Não queria mesmo saber de um relacionamento sério, mas foi inevitável. Foi mais forte do que eu (seguindo à risca a intuição que tive no primeiro instante). Ele tinha tudo o que eu procurava em um homem, mesmo sem eu mesma saber que estava a procura de um. Não me imaginava mais sem ele. E então, foi dado início à derrocada do aclamado "plano perfeito"!
Quando o Théo surgiu em nossas vidas, estávamos juntos há pouco mais de 2 anos.
Durante algumas semanas fomos nos acostumando com a possibilidade da gravidez, até arriscarmos um diagnóstico definitivo. Eu sempre dizia: "Se até amanhã nada acontecer, faço o teste!". Acordava todas as noites, no meio da madrugada, e ia até o banheiro, cheia de esperanças. Até que um dia, num feriado no Guarujá, eu passei mal. Fiquei toda feliz pensando ser um sintoma da TPM.
Mas na manhã seguinte, acordei com o Fabiano me olhando, com um teste de gravidez na mão, dizendo que havia chegado a hora de pôr um fim em toda aquela aflição. Ele garantia estar dormindo menos ainda do que eu: "Não adianta prolongar isto, seja qual for o resultado, já está feito. Não aguento conviver mais um dia com a dúvida.".
Junto com o teste, dentro do saco da farmácia, tinha um batom daqueles em forma de morango. Ah, ele adivinhou! Há quantos anos eu não ganhava um batom de morango! Abri o morango, senti primeiro o cheiro do lado rosa do batom, meu preferido, que ficava sempre com as marcas dos meus dedos, e depois do lado vermelho, que sempre sobrava e acabava ficando seco pela falta de uso, e ia junto com o morango pro lixo. Minha vida passou como um filme: lembrei da infância, quando eu esperava ansiosa meu pai chegar e imaginava se, naquele dia, ele traria um batom novo de morango pra mim...e agora, novamente com o batonzinho na mão, estava prestes a descobrir que seria obrigada a crescer e virar uma mulher.
Passei de menina à mulher, diante do batom de moranguinho, naquele dia, naquela manhã, naquela cidade de praia onde tudo acontece.
Saí do banheiro com o teste na mão, chorando o choro mais sincero, confuso e desesperado da minha vida. E recebi o abraço mais sincero e apertado como recompensa. Eu era, agora, uma daquelas adolescentes das revistas, dos depoimentos que eu tanto gostava de ler. Agora seria de verdade, hora de colocar em prática da melhor maneira tudo que imaginei durante vários anos enquanto pensava naquelas meninas da Capricho. Assim como elas, nunca cogitei a possibilidade de fazer um aborto. E foi justamente isso que o pai do meu filho disse quando me soltou do abraço: "Nem pense em fazer nenhuma besteira, sou totalmente contra isso."
Nos dias seguintes, o mundo pareceu bem cinza antes de retomar um colorido ainda mais intenso.
E saímos juntos pra enfrentar o mundo. Exatamente como eu pensei que seria. Entre altos e baixos de reações das famílias, amigos, colegas, conhecidos e até gente que nada tinha a ver com a história, ficamos ilesos e encaramos a gravidez de frente, com orgulho e amor de papai e mamãe.
Fizemos curso de gestante, íamos na Feira da Mamãe e Bebê. Passávamos as manhãs do domingo vendo o livro de nomes. Quando eu sugeri "Théo", ele disse que isso nem sequer era um nome. Eu retruquei: Théo é um nome grego e significa "enviado de Deus". Perfeito!
Curtimos cada minuto. São lembranças muito boas que guardo daqueles nove meses. Até o parto, do qual eu morria de medo e que me rendeu tantas noites em claro, além de 50% do "chororô" da descoberta da gravidez, foi mais tranquilo do que eu imaginei. E, principalmente, eu fui infinitamente mais forte do que julgava ser.
Diante do resultado positivo do exame de farmácia naquela manhã no apartamento da praia, minha primeira reação foi ligar para o médico em busca de esperança, de instruções, de recomendações, de restrições, de sei-lá-o-quê. Só sei que liguei. Ele disse que faria um ultrassom pra confirmar a suspeita, já que "esses testes às vezes dão resultados falsos".
Então naquela segunda-feira pós-feriado, voltamos cedinho da praia e, antes de ir pra consulta, passei no escritório do meu pai pra comunicar o fato. "Não era o que eu imaginava pro seu futuro", ouvi dele.
Bom, até aí, eu também não. Lembra do plano?
Logo depois dessa agradável "reunião", que era a que mais me punha medo, chegamos, eu e minha mãe, finalmente ao prédio do consultório médico. Quando apertei o botão do elevador, e enquanto esperava ele chegar, me peguei pensando: "E se ele disser que o teste estava errado? Ah, agora faço questão de ter um filho. Já me sinto mãe e já amo uma criança."
E foi nesse instante que percebi que tinha mesmo me tornado uma Mulher.
Final feliz pra minha história, assim como o das histórias que eu passei a infância lendo! Saí do médico com a foto do ultrassom daquele "feijãozinho", toda feliz. Liguei pra todos pra reafirmar a notícia, dessa vez com lágrimas de felicidade. Eu já tinha ouvido o coração do meu filho bater! E isso traz, pra uma mulher, a mesma felicidade que ganhar um batom de morango do pai traz para uma menina.

Na época em que ganhar o batom era o máximo!
O famoso morango! E a parte rosa lindona!


Théo nasceu em 23/11/2007, quando eu tinha 21 anos.